queria ter força para extirpar da mão carcomida a banalidade da frase fácil, da fórmula pronta, do verso mal dito
queria exorcizar das linhas onde jorram sentimentos paupérrimos o verbo infértil, verme, insuportavelmente, escrito
queria enterrar - de uma vez por todas - as farsas e seus personagens bufos, solilóquios do ego, carrascos do grito
Não consegue.
quem sabe um dia...
... um dia, d'uma manhã de chuva fina, fria
um dia, em que não precise espremer a palavra do peito oco e, como um louco, se atire - de cabeça - no infinito abismo de delírios, da paixão, da crença
da fé...
... que arrebata, que fere, que morre, que mata, e destitui o agonizante artista da morbidez do vago...
... que abençoa com o toque sagrado da palavra profunda, que molha a tez, límpida ou imunda, e inunda alma...
- calma!
(deixou seu corpo esquálido ser violentado pela inspiração, sangrou o útero da página, fecundou o óvulo "in versu")
- a puta que pariu.
(sereno, o poeta amamenta, agora, noite afora, sua poesia recém-nascida da breve aurora)
chg
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