sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

sou um marginal, entre grades-linhas
delinqüente, mendigo louco,
agressor da rima, da métrica
sou um grito rouco 

sou o revogar da vogal
depredador da estrutura culta
sou parteira d'um verbo-feto
sou tara, tapa-na-cara, puta 
sou assim amorfo, insólito, torto
profeta de versos profanos;
delírio d'um quase-morto
sou o ébrio de cantos insanos 
sou ladrão de vidas
algoz da palavra estuprada
um velho e suas feridas
sou a alma escancarada 

chg

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

hoje,
sou o sublime prazer de me sentir pequeno
criatura-moleque, livre, que ri e corre ao vento
que pula, que cai, que deita, e perde o tempo

eis-me a matéria pura que se mistura à natureza
que se abstrai das angústias e de toda dureza
pequenina vida que brinca, que se disfarça de chuva
que constrói castelos, mundos, que faz da reta a curva

que conversa com bichos
acorda tarde, dorme cedo
não vê, no mundo, o lixo
inventa jogos, faz brinquedo

hoje,
sou um homem-menino
que - pequenino - ainda sonha falar com um passarinho.

chg

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

 MELHORES POEMAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 

 

Nasceu em Minas Gerais, numa cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira. Seus antepassados, tanto do lado materno como paterno, pertencem a famílias de há muito tempo estabelecidas no Brasil 2 3 . Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte, no Colégio Arnaldo, e em Nova Friburgo com os jesuítas no Colégio Anchieta.4 Formado em farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais5 , com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil.6 Em 1925, casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio, que viveu apenas meia hora (e a quem é dedicado o poema "O que viveu meia hora", presente em Poesia completa, Ed. Nova Aguilar, 2002), e Maria Julieta Drummond de Andrade.
No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, "Alguma poesia" (1930), o seu poema Sentimental é declamado na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil"1 , feita no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto, no contexto da política de difusão da literatura brasileira nas Universidades Portuguesas. Durante a maior parte da vida, Drummond foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha.7 Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas. Em 1987, meses antes de sua morte, a escola de samba Mangueira o homenageou no Carnaval com o enredo "O Reino das Palavras", sagrando-se campeã do Carnaval Carioca naquele ano.8
Existe colaboração de sua autoria no semanário Mundo Literário 9 (1946-1948).

Fonte:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade
 
 
POEMAS
 
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava
Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


A LÍNGUA LAMBE
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos 


FAZENDA

Vejo o Retiro: suspiro
no vale fundo.
O Retiro ficava longe
do oceanomundo.
Ninguém sabia da Rússia
com sua foice.
A morte escolhia a forma
breve de um coice.
Mulher, abundavam negras
socando milho.
Rês morta, urubus rasantes,
logo em concílio.
O amor das éguas rinchava
no azul do pasto.
E criação e gente, em liga,
tudo era casto...


A VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão, 
sua miopia.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

NarcisO

achou | uohca
mirou-se | es-uorim
sorriu | uirros

#partiuembuscadeespelhos


chg
 meus amorfos versos
                    IMersos
                                INversos

                               : grafos em movimento amebóide INtenso
                                                                                       himenSO.

                                                                                                 chg
pasta, em minha cabeça, uma vaca
cérebro ruminante, mastiga incessantemente 

                         ... as vezes, caga.

chg

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A mentira é o desejo expresso de que tudo esteja em seu devido lugar, mesmo quando nada está.

chg
cansado de cair na real
pôs-se a tecer relicários de acontecimentos inexistentes

delirante, vestido de imaginação, fez da mentira suas asas de Ícaro.

chg

domingo, 18 de janeiro de 2015

não me invada
vádio, vazio, vazo pelos poros
                                 Evaporo  .

chg

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

                                           moro em meu corpo
                     que mora em minha casa 
que habita o mundo 
                     mundo onde  morro.


chg

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

é ...

... como se amarrassem uma corrente em meu peito ...
... como se cavalos, furiosos, me arrastassem pela estrada empoeirada ...
... como se, amordaçado, a poeira inundasse os meus olhos ...
... como se minha pele agarrada ao chão morno, escrevesse versos sem rima ...


e ...

... o inferno abaixo e a lua, fria utopia, acima ...
... a alma a cavalgar meu corpo, dilacerado, agonizante ...
... o sol, escaldante, prepara a refeição dos abutres : EU

... então,

das profundezas, reuno forças para o impulso que me eleva à luz
submirjo do mar de angústias, onde naufraguei do derradeiro sonho.


chg
em mim...

não há ódio, há dúvidas
há descrença no solo onde semeei sonhos
onde desejei jardim, há um deserto infinito ...

(um verso em grito)

terra de um gris ininterrupto
onde singra um olhar perdido, distante 
nau de um escrevinhador errante
cultivador do onírico 
pária que não acredita em Fim

enfim...

há uma mancha de gotas dos olhos no papiro   
na última página inacabada 
há um capítulo de uma dimensão intangível, amada.    

(uma palavra alada)

chg

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

POEMAS DE MÁRIO QUINTANA

BREVE BIOGRAFIA

Nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906,  filho de Celso de Oliveira Quintana e de D. Virgínia de Miranda Quintana. 

Produziu seus primeiros trabalhos no Colégio Militar de Porto Alegre,  no ano de 1919. Empregou-se na Livraria do Globo, onde trabalhou por três meses com Mansueto Bernardi. 
Teu seu conto A Sétima Personagem premiado em concurso promovido pelo jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre.

 
Trabalhou na redação do "O Estado do Rio Grande" , na "Revista do Globo" e no "Correio do Povo"que publicaram seus poemas. Atuou como tradutor na Editora Globo, onde traduziu as obras de escritores estrangeiros, dentre estes: Fred Marsyat, Charles Morgan, Rosamond Lehman, Lin Yutang, Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini e Maupassant.

Organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, foi publicada, em 19966, sua Antologia Poética pela Editora do Autor - Rio de Janeiro. 

Pelo conjunto de sua obra, Mário Quintana, em 1980, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.

Mário Quintana faleceu em 1994 em Porto Alegre. Encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre. Em 2006, no centenário de seu nascimento, várias comemorações foram realizadas no estado do Rio Grande do Sul em sua homenagem.

Sobre a morte, escreveu o poeta:

"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira"
.

E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".


POEMAS

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!



Bilhete
 
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

 

Relógio

O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.


Envelhecer

Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.



Das utopias
 
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!



Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...

EU              ,
    concreto ,
    ...   desenho palavras
     :    versos em ângulo R
                                    E
                                    T
                                    O .

chg


ACASALAMENTO

quando a música se enamora da poesia                  ,

a vida engana o tempo
a noite devora o dia

corpos são vento, vento                                        .  .   .

os sonhos, apenas, movimentam- se 
                                                         - sublimemente -
                                                         -        sutilmente -

(a carne treme, o peito sente)

chg