sexta-feira, 16 de agosto de 2013

IN

lá fora
colibris regem 
a orquestra...

| multicores |

... das flores

aqui dentro
dói o vazio
nada me resta

| negro açoite |

... continuo noite.

chg
supostamente

sem direção
nada é mais

c e r t e i r a


que uma
IN DI RE TA

c h g
Belém é água: rua rio anil
é calor e frio
Belém é cio

chg
Quando criança, acreditava que Deus e os santos moravam numa casa no céu. O céu era o piso da casa de Deus. 
Aí, quando aconteciam os trovões, eu pensava: estão brigando na casa de cima! Estão jogando os móveis um nos outros.
Era assim.

chg
queria cantar
                mas não aprendi
queria dançar
                mas não aprendi
queria pintar
               mas não aprendi

Voar eu sei, voar eu aprendi no dia em que bordei minhas asas de palavras.

chg
O amor quando se esvai deixa um novo olhar. O que ficou na última estação passa a ser visto sem cor, sabor, perfume; é poeira no gris chão. Não recorda que fora paixão. chg
quando ainda 
tateava estrelas no vazio.. .

(na penumbra do sonho)

. ..percebeu que amor sempre esteve ali, quieto, ao seu lado...

chorou.


chg
entre

o amor
e
o ódio

o pior: a indiferença.

chg
quando acordares
terei partido

não procures
será em vão

não haverá batom no espelho
tampouco carta de despedida

tranque a porta
jogue minha chave
no vaso sanitário

tua existência é o tempo do secar da última gota de tua saliva que trago na boca

(cuspo)

pronto, sumiste.



chg

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DE TANTO NÃO CHEGARES, PARTI

  fazê-me esperar...

(em vão)

... quando resta-me
um único destino
: tua boca

- ouçame! (assim, nu, sem hífen)

... mares secam
; amares,  idem.


chg
QUANDO CHORAM AS NUVENS

Quando despencou da cama, de branco lençol, não imaginava a exuberante viagem que faria. O que parecia pesadelo fez-se, num instante, um belo sonho.
Viu-se bailando no ar. A brisa inconstante e fria moldando seus cabelos, acariciando seu corpo... Esbarrou, sem perceber - estando encantada pela música do vento tocando as folhagens - em um imenso tapete vermelho. Pediu licença.
Livre, deslizou veloz até se projetar, num salto, e cair, suave, sobre os pés do frio chão, que não reclamou; pelo contrário, sorriu.
Acabara de lavar a alma, antes castigada pelo sol da tarde. Ainda assim, desculpou-se e, logo, precipitou seus pequenos pés no rio que passava ao lado. Foi tragada, conduzida, sem que pedisse, para rios nunca d'antes navegados.
Pensou: “terei morrido, e eis o paraíso?”.
Não. Era real. Era a fantástica aventura cíclica da vida...
Repentinamente, com violência, foi lançada no vazio. Desceu por uma furiosa cachoeira. Cortou o espaço e rasgou a garganta do silêncio. Com um brilho no olhar, misto de medo e deslumbramento, seguiu em direção ao mundo subterrâneo, fascinante e desconhecido. Um mundo formado de túneis, labirintos de águas correntes, escuridão e sons difusos... Só então, percebeu que não estava sozinha. Estava, por todos os lados, cercada de seres iguais. Felizes.
A luz, a desejada em todo fim de túnel, aproximava-se. Explodia multicores em seu minúsculo corpo e a consumia. Sua existência ganhava sentido, também volume. Iria ver o mar... A realização de seu maior sonho não tardaria a chegar.
Cerrou os olhos, abriu os braços e mergulhou - bem fundo - na sua mais intensa experiência. Sentiu o mar lhe acolher, afagar, envolver, amar... E ao abrir os olhos, onde lágrimas desciam e se fundiam a sua essência, entendeu que, também, era mar.
- Existe vida após a tempestade!- pensou.
Feliz, a Gota de Chuva viveu por lá, no mar. E se amaram. Naquele sublime acasalamento, prometeram viver um para o outro até que a evaporação os separasse.

chg
jurei

... amar-te
... até
... a morte

e irei

 

c
h
g
Disse-lhe:

- Te amo!

não houve eco
o dia calou
o sol tingiu-se gris

... não o quis.

(o silêncio é lâmina afiada)

 

chg
FOGO AMIGO

(... dão-te
indiferença
... usam-te)

das vis condutas
fazes válvula de escape

e punes
... quem está ao lado
... quem te carrega no peito

(violento delito)

dás sal e fel
aos que te amam
e
aos que te sugam
, pão e mel

(na vida, quase tudo é finito -apega-te as exceções...)

 

chg
por vezes,

p r o l o n g a r

um moribundo sentimento
é escolher o pior momento de
morrer

é dar vida ao sofrimento .

 

(chg)
. . .
tudo é tão injusto.

(to quit, or not to quit: that's the question)

 

chg
a pele
- enrugada -
sucumbe frente às leis da gravidade

o músculo
flácido
acusa a sua derradeira agonia

já não há dia
e a sombra perpétua acompanha seu martírio

- Quem se lembrará que viveu?

(a onda azul do mar acabara de apagar seu rastro santo...)



 

chg
para
purificar a página

(a da minha alma)

faço jejum de versos

(caminho - equilíbrio ébrio - pelo fio farpado do silêncio)

- reparir-me!

 

chg
... foi a gota d'água...
... em cólera, berrou :

- Não quero ser anjo. Anjos não fodem!

... deu-lhe as costas e nunca mais foi visto.

(chg)