segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(su)REAL

à Jose Barros desaparecido na tragédia do (su)Real Class

"Caiu
na contramão
atrapalhando o sábado."

- cadê o José... "E agora José?"

Foi a ganância [dos homens]
que, teu corpo, entregou
à fome do barro...

[antes,
mesmo]

... que tua morte chegasse.

- "a festa acabou!"

C.H.Gonçalves




XADREZ (para quem?)

Foi de um lado...
... para outro

Não havia saída.

... Furiosa, a Rainha,
a Torre, tombou.

- xeque mate! [cheque mata]

três peões, apenas, restaram...
... cobertos de entulhos.

Nenhum bispo,
para, às almas, rezarem,
apareceu.

- CAVALOS!

... Vitorioso, o rei riu.

C.H.Gonçalves


ARGAMASSA


Concreto,
o poema não rui,
não despencam
suas palavras...
... o poeta está salvo.
Amém!

C.H.Gonçalves






quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

PESCADOR DE VIDA 


Lança tua rede ao mar...
Pesca a poesia no oceano da palavra...
Ancora o teu barco no cais da ilusão e vai.
...
...e ao cair da tarde, quando a Lua render o Sol
deita em tua rede e descansa, ó pescador de ilusão.

A poesia hoje te foi farta.
No teu ofício a profecia se cumpriu.

...agora dorme, pescador de sonhos
que amanhã teu barco te espera,
ancorado no cais.

Abel De Jesus Requião 

batizado por CH Gonçalves e Wanda Monteiro

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lágrima verde de minha alma terra

Quem dera
eu morresse
qual gota de orvalho

Que pinga da rosa
...Que baila no vento
Que beija o chão

e, entre grãos,

O que a terra filtrasse
eu restasse o perfume
eu inteiro sumisse

Ah, quem dera

C.H.GONÇALVES
  (batizado pelo Poeta Abel de Jesus Requião))

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

PÓLEN


Não forces!

ingovernáveis
são os poemas.

Se [de fato] 
poeta fores,
tua mão, um dia,
[como das flores saem pólens]
poesias soltará no ar...

São flores!


Remédios para as dores;
receitas de amar.

C.H. Gonçalves



domingo, 9 de janeiro de 2011

O MENINO (de) “C”EM ASAS

A calçada parecia-lhe pista de pouso
passou ligeiro  [desceu] por mim;
                          chamou-me a atenção.

Na baixa altura, esbanjava alegria...

Era meio menino...
                           E: sorriso inteiro.

brilhavam os olhos,
reluziam os dentes
ao rir seu puro riso

Não tinha pernas - a vida queimou...
[havia penas nos braços velozes]

Nem mesmo pés - o fogo encolheu
[havia nadadeiras nos órgãos menores]

Sempre ria;
                                            bastante feliz...

penso no pequeno corpo - N'ele impresso a injustiça divina...
vejo uma grande alma - nela expressa a alegria menina...

olha-me;
             mais um riso...

fala-me:
                  - tio, me dá um real!
                                                                                                                       E: caio então na real...
                 
                  

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SAPATOS (ao meu amado pai)

O velho pai,  foi sapato
De meus filhos, sou sapatos
são dez, 
os pares de sapatos...

Na areia,
[do caminho]
são oito, 
as marcas dessa teia...

No vento, 
[canto de passarinho]
apenas asas,
Ness'alma de tantas casas...


C.H.Gonçalves


PEDRO (o menor de todos)

Pedro, ou Pipico, como é chamado pelos tios, é a criatura mais leve que conheço. Tenho, as vezes, a impressão que flutua. 
Numa tarde destas de verão, querendo me conquistar para passear, antes do sol se recolher, veio a mim como um grilo fugindo do gato.
- Papai, estou tão feliz... Estou com muita felicidade... Me leva para passear?
- Está bem, eu levo, mas só se me disser o que é felicidade.
Ele parou, pensou, e, repentinamente, voltou a pular, desta feita mais rápido.
- felicidade é isso.
- isso o que?
- os meus pulinhos.
E pulou bem alto, grudou no meu peito e fomos correr na rua, sempre pulando, querendo, quem sabe, segurar o sol.

C.H.Gonçalves


GABRIEL (o do meio)

O pequeno Gabriel -que já sabe voar - veio, numa dessas manhãs cobertas de orvalho, sorridente e disse ao meu ouvido.
- te amo, papai! 
Feliz com o carinho, pensei: "o que será o amor para ele?". E perguntei. 
- O que é o amor, filhote? 
Ele, de pronto, respondeu. 
- Uma coceirinha que dá no meu coração. 
Molharam meus olhos, suas palavrinhas sinceras.



C.H.Gonçalves



ÍCARO (o maior de todos)

Ícaro - que coloquei asas - , durante o almoço, sem respirar, bebeu um copo inteiro de Coca Cola. 
- BRUAOOOOAOOA! 
Zangado, o repreendi. 
- quando quiser arrotar vá ao banheiro. Isso é falta de educação. 
Silenciou a mesa... e os olhares voltaram-se para o pequeno Ícaro.
- Foi sem querer, desculpa papai.
A tarde, quando eu organiza fotos no computador, Ícaro, com um copo de Coca Cola na mão, sentou-se ao meu lado. Tomava com cuidado a bebida. Gole a gole. De nada adiantou. 
- BRUAOOOOAOOA! 
Olhei para ele que, desconfiado, falou.
- ouviu pai... ouviu como bateu alto o meu coração?
Neste dia, aprendi a rir sem mexer os lábios.

C.H.Gonçalves




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os 100 melhores do Século 21 (até agora) - Filmes Estrangeiros

Dez filmes estrangeiros fundamentais

1 - Dogville, de Lars Von Trier (2003). 

Partindo de uma situação singela, o dinamarquês Lars Von Trier construiu uma das parábolas mais originais sobre a sociedade norte-americana, vista como uma rede cruel de relações de dominação. No enredo, uma jovem forasteira (Nicole Kidman), perseguida por gângsteres, busca refúgio em um vilarejo próximo às Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, na época da Grande Depressão. Todo o filme se passa num único cenário, um enorme palco sem paredes, com marcações no chão que representam objetos e lugares. A inusitada forma antinaturalista da encenação potencializa o olhar crítico do cineasta.

2 - Cidade dos Sonhos, de David Lynch (2001). 

Nesse longa-metragem perturbador, de narrativa elíptica, uma garota sonhadora (Naomi Watts), recém-chegada a Hollywood, acolhe uma mulher (Laura Harring) que perdeu a memória depois de um acidente. Sequências desconexas, apoiadas numa densa atmosfera de mistério, embaralham personagens e situações, colocando em xeque as noções de sonho e vigília, de real e imaginário. Uma brilhante reflexão do diretor norte-americano sobre as crises de identidade que atormentam o homem contemporâneo.

3 - O Pântano, de Lucrecia Martel (2001).

O filme de estreia da cineasta argentina evidencia seu talento para a observação sutil das relações humanas e das pulsões contraditórias dos indivíduos. Entre relações decadentes e o desconforto de um intenso verão, duas famílias convivem numa casa próxima a um pântano. A embriaguez (alcoólica ou não) dos personagens é traduzida em movimentos de câmera muitas vezes desconfortáveis, que incorporam tropeços, e acentuada pelos ruídos que se sobrepõem às falas. O clima geral de pasmaceira e inconsequência foi visto como uma metáfora da Argentina.

4 - Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci (2003).

Enquanto os incêndios e as barricadas das revoltas estudantis agitam as ruas de Paris em maio de 1968, três jovens vivem um insólito triângulo amoroso e mergulham em jogos eróticos e intelectuais. O italiano Bertolucci­ transforma o relacionamento entre um estudante norte-americano e dois irmãos anglo-franceses no núcleo narrativo de todo um contexto cultural, promovendo a intersecção entre política, arte e sexualidade. Uma visão crítica e amorosa do sonho utópico de mudar o mundo e transformar o homem.

5 - Elefante, de Gus Van Sant (2003).
O norte-americano Gus Van Sant traça nesse filme um retrato cruel da juventude como um momento de incompreensão e incompletude. Toda a trama gira em torno de um colégio dos Estados Unidos onde dois alunos promovem um assassinato em massa de colegas e professores. As chacinas reais ocorridas em Columbine e outras escolas do país serviram de inspiração para o diretor. A narrativa, fragmentada no olhar subjetivo de cada personagem, confere veracidade à trama e rendeu a Van Sant a Palma de Ouro em Cannes.

6 - Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul (2010). 

À beira da morte, Boonmee recebe o fantasma da esposa e vê o filho metamorfoseado em símio. O diretor tailandês faz do realismo fantástico matéria-prima da vida cotidiana.

7 - Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino (2009).Durante a Segunda Guerra Mundial, na França ocupada, judeus norte-americanos especializados em caçar e escalpelar nazistas planejam matar o próprio Adolf Hitler. Audacioso, o diretor norte-americano inverte os papéis e transforma vítimas em algozes. 

8 - Vincere, de Marco Bellocchio (2009).

O cineasta italiano investiga o fascismo através do drama de Ida Dalser, amante de Benito Mussolini. Entre a história e a ficção, o personagem do ditador (Filippo Timi) é aos poucos substituído por imagens reais do tirano. Impressionante.

9 - Ponto Final - Match Point, de Woody Allen (2005). 

Um ex-tenista se apaixona pela namorada do amigo rico e precisa optar entre a paixão e o dinheiro. Nesse competente suspense do diretor nova-iorquino, escolhas mundanas e questões metafísicas interferem em igual medida na vida dos personagens.

10 - Caché, de Michael Haneke (2005).

Apresentador de talk-show encontra na caixa de correio vídeos com imagens roubadas de sua vida privada. Exemplo precioso do chamado "cinema da crueldade", em que o alemão Haneke sobrepõe a violência psicológica à física.
Consultores: Cássio Starling Carlos, crítico, curador e pesquisador da história do audiovisual; Ismail Xavier, professor de cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo; José Geraldo Couto, crítico, tradutor e colunista da Folha de S.Paulo; Ricardo Calil, diretor de redação da revista Trip, crítico e codiretor do documentário Uma Noite em 67
As luzes da cidade

Já se apagaram.

Da janela de meu observatório

Já posso ouvir

O silêncio ensurdecedor da noite.

...Mas não existem mistérios na noite

(o mistério está na escuridão dos homens)

Porque a noite...

...é, simplesmente

O AMANHECER DAS ESTRELAS!



Abel de Jesus Requião


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Meu Fardo de Asas

Carrego nas costas um velho sábio, 
que cochicha poemas e 
vidas vividas em meu ouvido; 
                                         quanto mais ando, 
                                                      mais fala, 
                                                      mais aprendo lições...

Carrego nos ombros um homem gordo 
que consome minha energia, 
                                         quanto mais ando, 
                                                       mais ele engorda, 
                                                       minhas pernas cansam, 
                                                       o corpo endurece, 
                                                       o chão amolece até me engolir, 
                                                                                      alimentar-se de mim...

Carrego no peito uma mulher nua 
que me encanta com o perfume do seu sexo, 
                                        quanto mais ando, 
                                                      mais impregna-me o cheiro das vaginas que cruzam meu percurso, 
                                                                               traz-me o insuportável desejo de gozar e reproduzir...

Carrego em meu ventre um menino 
que brinca sozinho, 
que espera um descuido do adulto chato 
que sou 
para fugir pela brecha de um sorriso sincero 
                                        a procura de outras crianças; 
                                                     revivo a infância passada, 
                                                                       agora e 
                                                                                  sempre presente...

Carrego na vida um velho, 
                             um homem, 
                             uma mulher, 
                             uma criança, 
                                      carga de múltiplas vidas, 
                                                      que nascem, 
                                                              vivem, 
                                                              amam, 
                                                              morrem, 
                                                                              voam...

Carrego em mim, sonhos; 
trago nas costas, asas. 

C.H.Gonçalves