quarta-feira, 27 de maio de 2015

Belém...

calor interno das vias, vulvas molhadas, vulvas
afloram cios em meio a postes erectos 

: TESÃOS

orvalhos
contrações em troncos e galhos

Belém úmida do orgasmo das nuvens 

(ah, irresistível lingerie gris)

chg
então, era semente 

e precisou de terra... Ela deu 
e precisou de sol... Ela deu 
e precisou de água... Ela deu 

então, germinou 

e precisou de proteção, Ela deu 
e precisou de cuidados, Ela deu 
e precisou de alimentos, Ela deu 

então, cresceu e floresceu 

Ela sorriu até que veio o beija-flor e beijou, 
e levou o seu amor 
Ela chorou... era fruto dela 

... flor de seu amor... 


então, sabia, era filho e Ela, eternamente, MÃE. 

maior que tudo) 

chg

segunda-feira, 25 de maio de 2015

... sua vida foi consumir o álcool que lhe consumiu a vida ... 
                                                         
                                    (aos 70 anos, abreviou-se) 

 chg

sábado, 23 de maio de 2015

companheira de todas as horas, fiel confidente, vida noir unida aos meus pés,
és tecida com meus silêncios insolúveis

ei, dama liberta pelo temporal,
enamorou-te as trevas?

e deixa-me... ?

se não estás comigo, Sra. Sombra, de que me vale esse caminhar repleto de lumens?

sou noite...

criatura da penumbra 
guetos, onde tua presença é insignificância 

já não sinto tua  funesta flagrância 

sem misericórdia, eis-me escuridão

para todo sempre.

(além...)

chg
Novo Look

Estava se achando envelhecido. Resolveu dar um grau no visual. Mudar o look. Cortou - ele próprio -, bem baixinho, o cabelo e tirou a barba e o bigode que estavam impregnados de fios brancos. Admirou-se, orgulhoso, em frente ao espelho. 

- Sensacional, ficou muito bom... Fiquei mais novo dez anos - pensou. 

Naquele dia, apesar das batidas insistentes de sua mulher na porta o apressando para liberar o banheiro, levou duas horas no banho. Tudo para terminar sua "transformação" surpresa. 
Todo aquele esforço não seria em vão... Estava mais novo, isso era um fato inquestionável, acreditava.
Ao sair, foi recepcionado por sua esposa com um sorriso indecifrável nos lábios.

- É-gu-a, até que enfim...
- Gostou, amor? Não pareço mais novo?
- Parece... Parece duas horas mais novo... Licença que eu quero tomar banho.

Rotina.

chg

sábado, 16 de maio de 2015

Outro dia, postei um texto sobre um fato ocorrido no futebol de meus filhos. Uma narrativa engraçada. Hoje, vou postar outra. Divirto-me muito vendo as crianças jogarem. 

Vamos ao fato...

Um dos meninos que treinava - nunca soube o nome dele - ia sempre levado por sua tia, uma mocinha. 
quando a bola ia para ele, da lateral do campo, ela gritava histérica:
- Vai coração, vai coração, vai!
Isso não só constrangia o menino como o deixava muito estressado. Como resposta, ele esculhambava como todo mundo e jogava com violência. Não demorou muito para ele abandonar a escolinha de futebol.  
Recentemente, voltou para escolinha sem sua tia "agoniada". Maiorzinho e bem mais calmo, é um outro menino. Tranquilo, já não pega corda nem com o apelido que lhe colocaram: Coração. Triste herança dos tempos de sua histérica tia. 
O problema, agora, é a estranheza que causa - para nos do mundo adulto - quando seus companheiros de time, durante o jogo, dizem "mete, Coração!", "entra, Coração!", "enfia, Coração", "ai, Coração!"...
Bom demais ver o futebol das crianças com suas peculiaridades.

chg
um louco
um ladrão 
um santo

poucos são 
cada qual mora num canto...

habitam uma parte de mim...

um anseia fugir
outro gritar
e o ultimo tem fé na redenção dos primeiros

nesse delírio 
nessa confusão que ocorre em meu âmago 
,
ódios, amores, paixões, dós e fés são atirados contra as paredes de minha carne

ecoam no peito 
da garganta, são extirpardos em gritos, soluços e gemidos 

(as vezes canto.)

chg

segunda-feira, 11 de maio de 2015

havia um sonho
havia sido rastejante 
havia adormecido em seda 

agora, explodia em cores

agora, bailava na brisa
agora, beijava o âmago da rosa

acariciou sentimentos acuados

despertou desejos perdidos
alimentou uma alma em desencanto

e


mesmo que não houvesse canto

havia melodia naquele riso
doçura do néctar da vida, havia encanto

mas como aprendera a voar, voou

minhas pétalas a orvalhar
se derramaram... Ela partiu

então, entendi:

borboletas voam alto, muito alto
borboletas - tatuagem em mim - são eternos despertares.

chg

quinta-feira, 7 de maio de 2015




Bom Apetite!
 
Ele pediu para que eu contasse como havia acontecido. Eu já havia contado... Mas Ele queria que eu repetisse. Eu estava irritado. Ele, sempre que podia me provocava. Ele não ligava para o que eu sentia... Sempre foi assim. Ficou assim desde que meus pais morreram. O que aconteceu comigo, ontem, marcou minha vida... Foi traumático... E ele se divertia... É sádico. Ele me ameaçou. Ele disse que, seu eu não contasse, ele iria contar para todo mundo. Ele adora me envergonhar.

- Conte novamente!

Antes mesmo que eu começasse a contar, abriu aquele sorriso largo... malicioso, com seus dentes tingidos pelo fumo a mostra... Meu ódio queimava por dentro. Era como um ácido comendo minhas carnes.

- Não quero mais falar sobre esse assunto.

Ele, como de hábito, não deu a menor atenção e continuou me provocando.

-  Mais essa vez... Não peço mais, prometo.

Eu tentei convencê-lo de que aquilo causava-me sofrimento.

- Não gosto desse tipo de brincadeira. Não vou repetir.

Ele, em tom ameaçador, insistiu.

- Tudo bem. Então eu conto... Conto para todo mundo.

Eu, se pudesse, correria, fugiria e nunca mais retornaria a aquela maldita casa. Mas eu não tenho para onde ir. Eu sou órfão. Eu não tenho saída. Eu sou obrigado a suportar terríveis humilhações. Eu fico calado. Eu não posso reagir. Eu sou dependente de todos. Mas Eu não sou burro. Todos pensam que me enganam. Eu sou paciente. Eu creio nas voltas que o mundo dá. Eu acredito que um dia minha hora vai chegar... Eu pensei em contar rapidamente, mas isso o iria o irritar. Ele faria eu repetir quantas vezes fossem necessárias para satisfazer seus desejos obscenos... Depois que a mulher dele faleceu, sua maior diversão era me humilhar... O acontecido lhe deu munição para continuar suas torturas... Pior seria ter meu maior segredo revelado por uma pessoa insana. Ele colocaria coisas. Ele a tornaria mais dramática do que já era... Era melhor fazer o que pedia.

- Não, por favor. Não conte nada a ninguém. Prometa... Está bem, eu conto para você. Só mais essa vez.

Ele riu... Eu nunca consegui interpretar o seu riso. Seus olhos fechavam-se. Tinham uma escuridão enigmática. Eram sem brilho. Quando ria, sua boca enchia de saliva... Ele movimentava a cabeça feito um pêndulo. Era como se fosse um animal preste a devorar sua presa.

- Você não vai contar a ninguém, promete?

Eu já havia contado para ele havia duas horas. Eu ficava bastante constrangido... Ele continuava com aquele riso sádico. Suas pernas mexiam. Aquilo o fazia transpirar. Ele exalava um odor azedo... Ele, talvez, desejasse ter vivido aquela situação. Não até o final. Mas os momentos bons. Que, confesso, me deram prazer... Ele fez um sinal com a cabeça para que eu iniciasse.

- Quero desde o início.

Eu obedeci e comecei a contar.

- Eu a vi nascer. Desde criança, eu brincava com Ela... Ela veio morar em casa quando ainda era pequena... Adorávamos brincar. Corríamos juntos pela casa. As vezes, tomávamos banho juntos. Não havia mal nisso. Estávamos nos descobrindo. Eu bem maior que ela. O que não impedia que tivéssemos bons momentos. Tudo muito ingênuo... Éramos tão unidos que passamos a dormir na mesma cama. Dormíamos juntos. A mulher dele não gostava. Achava aquilo errado. Dizia que cada qual deveria dormir no seu lugar... 

Eu comecei, nesse momento, a lembrar da falecida. Minha boca ficou pesada e a língua estática... Eu perdi a fala... Eu fiquei calado. Era como se eu tivesse saído daquele ambiente e tivesse me perdido num tempo passado... Eu só cai na real quando o vi balançando a cabeça e abrindo os braços, como quem pergunta: por que parou?

- Não consigo mais contar.

- Tudo bem, não vou forçar. Sou generoso. Mas lembre-se que não consigo manter minha boca fechada. Se você não pode contar, eu posso. E vou fazer isso. Contar essa história para todo mundo.

Eu continuava inerte. Era como se uma força contrária ao meu peso percorresse meu corpo e me paralisasse... Meus olhos encheram de lágrimas... Eu quis gritar, mas não conseguia. As lágrimas escorriam. Ele não se comovia. Pelo contrário, aquilo o satisfazia.

- Tudo bem, eu me encarrego de contar sua história. Não se preocupe, filho.

Eu despertei, assustado, e tudo destravou. O medo é capaz de injetar nas nossas veias substâncias que nos fazem praticar coisas inacreditáveis. O Susto foi revigorante. Com um sentimento que não sei descrever - acho que sou movido pelo ódio - passei a contar como ele queria, com detalhes.

- Nos estávamos dormindo juntos. Eu sentia seu hálito quente. Seus olhos negros brilhavam na escuridão do quarto. O som da sua respiração ofegante rompia o silêncio da noite. Meu coração batia forte. Ela não se mexia. Pensei: “será que está dormindo?”. Coloquei meu membro para fora. Comecei a forçar no meio das pernas dela. Sua respiração ficou acelerada. Senti quando começou a entrar. Um calor tomou conta de mim. Ela era quente e estreita. Ela se mexeu e eu parei. Fiquei quieto. Pensei em parar. Mas minha tara era maior que minha razão. O tempo passava. Sua respiração ficou mais moderada. Comecei, então, a forçar a entrada novamente. Ela se mexeu. Fiquei quieto. Sem conseguir me conter, empurrei com força.

- Para que tanta violência?
Ele falou sarcasticamente. Ele olhava para mim. Aquilo me incomodava muito... Ele tinha uma aparência séria, mas havia uma curva no canto da boca. Um sorriso disfarçado.

- Foi sem querer... Ela saiu da cama e não voltou. Fiquei com medo. Angustiado. Pensei em ir atrás dela. Mas meu corpo estava congelado. Não conseguia me mover. Eu estava muito confuso. Não me lembro o exato momento que adormeci... Pela manhã, percebi que ela não estava em casa. “Droga. Estraguei tudo. Ela não vai mais me querer!”, pensei. 

- Ela já estava apaixonada por você.

Mais uma vez, ele me interrompeu com sua ironia. Desta vez, riu mostrando sua língua esbranquiçada. Sua voz era irritante. Eu estava no meu limite... Eu passei então a não encará-lo. Assim não perderia a concentração e terminaria logo meu martírio.

- Foi então que vi algumas gotas de sangue no lençol. Levantei-me, tirei o lençol da cama e fui até o banheiro para retirar a mancha. “Será que eu a machuquei?”, questionei-me.

-  Garoto mau... Tirou sangue dela.

Sem me dar conta, fiquei imaginando os momentos bons que vivemos juntos. Se eu não tivesse forçado, aquela seria uma linda noite de amor... Meus pensamentos foram quebrados pela voz rouca dele me indagando.

- Vai continuar a história ou não? Assim você acaba com o clima.

Ele me olhava direto nos olhos.  Parecia que queria entrar em mim. Saber tudo o que eu tinha na mente. Conhecer a minha vida e a minha história detalhadamente.
Aquilo me amedrontava, ao mesmo tempo, que me tornava submisso... Eu não tinha saída. Só me restava continuar... Ele tirou um cigarro da carteira e acendeu. Ele não tirava os olhos de mim. Com um gesto da cabeça, pediu para que eu prosseguisse. Ele fumava e jogava fumaça para cima de mim. Ele fazia tudo para me provocar. Mas Eu sou forte. Continuei.

- No quarto dia, ela voltou a dormir na minha cama. Tive um susto, pois já estava quase dormindo, quando senti Ela deitar ao meu lado. Eu fiquei quieto. Fingi que dormia. Mas não conseguia conter minha respiração. Ela se aconchegou em meu corpo. Acho que sentiu meu calor. Tentei conter minha respiração. Mas era impossível – insuportável. Meu corpo queimava feito brasa. Abri, suavemente, meus olhos e pude perceber que seus olhos estavam abertos também. Não me contive e meu pênis, duro, começou a pulsar. Ajeitei com cuidado. E entrei em sua flor.
Ele, de repente, deu uma gargalhada. O som era enlouquecedor. Ria tanto que perdia o fôlego. Era uma mistura de risos e tossidas. Babava. Era nojento. Meu ódio mesclou-se com uma náusea. Perdi a paciência e falei com raiva.

- Quer que eu continue ou não?

Um silêncio tomou conta da cozinha. Ele se calou. Ficou surpreso com minha reação. Percebi que, pela primeira vez, Ele sentiu medo de mim. Aquilo me fez bem. Eu percebi que ele não era tão forte quanto demonstrava. Aquele velho idiota era um covarde. Continuei.

 - Fui colocando lentamente. Ela ficou calada. Quieta. Nos amamos a noite inteira... Quando acordei, Ela já havia saído. Vi que, na cama, desta vez, não havia manchas... Senti o cheiro do seu sexo no lençol.

- E depois?

- Repetimos por dias nossas noites de amor. Eram relações tão intensas que meu desejo aumentava a cada dia e nascia uma paixão louca, animal. Eu queria sempre mais... Tudo ia bem, até a noite de ontem.

- Agora vai ficar bom. 
- Ontem, eu quis fazer diferente. A desejei por trás. Sempre fui muito carinhoso. Mas, algo estranho, bestial, estava acontecendo. Eu estava muito ansioso, excitado e inquieto... Empurrei com força em sua traseira e ela gemeu alto, caiu da cama e saiu do quarto... Fui atrás dela. Chamava por Ela. Eu estava nervoso. Ela esfregava-se na parede e gemia. Gemia alto... Acho que doeu... Que doeu muito...  Por sorte, estávamos sozinhos em casa. Fui até o banheiro e joguei água sobre o corpo dela. A água aliviou sua dor. Ela me olhava desconfiada. Senti pena dela. Eu ainda estava nu, quando ela, de repente pôs a boca no meu pau, lambeu meu pênis... “Danadinha!”, pensei. Meu membro foi crescendo e ela lambia mas rápido.

- Interessante... Essa é a parte que mais gosto.

- Foi então que senti uma dor terrível. A desgraçada havia mordido meu pau. Ela apertava forte. Eu não podia gritar. Iria chamar a atenção dos vizinhos.  Num gesto impensado, eu apertei com força seu pescoço e torci. Ela latiu e deu um uivo alto. Depois,  largou meu pênis e se contorceu no chão... Sua respiração foi ficando lenta, lenta, lenta, até parar... Ainda vi suas pernas esticarem por duas vezes consecutivas. Após,  ficaram inertes... Estava morta. Eu a havia matado... Chorei compulsivamente... Limpei meu membro e o corpo dela. Depois, enrolei ela em uma toalha. Meu pênis ardia. Tinha sangue. Muito sangue. Eu precisava dar um fim ao cadáver dela... Resolvi enterrar no Jardim.

- Você a enterrou no jardim ou no quintal?

- No quintal...  Fiquei com medo que você brigasse comigo.

- Brigar com você? A cadela era sua e não minha... Eu a dei para você... E depois?

- Depois de enterrá-la, fui ao posto e fiz curativo... Lá, todos riam de mim... Disse que havia cortado com o barbeador.  Não acreditaram... Fiquei com raiva... Riam disfarçadamente. Riam covardemente. Riam criminosamente. Riam de mim... Eu queria matá-los.

- Calma, não precisa ficar nervoso. Acabou. Prometo não tocar mais nesse assunto.

Ele continuava olhando para mim. Ele sempre me tratou como um cachorro. A única coisa que me deu de bom foi a cadelinha. E eu a havia matado. Eu tremia de ódio, mas me controlava. Sabia que minha vitória estava próxima.

- Acho melhor você almoçar.

O almoço estava pronto. Passei a manhã inteira cozinhando. Até que ele veio até a cozinha para me perturbar. Eu já havia contado, cedo, a mesma história. O cheiro da vingança me acalmou... Eu preparei um prato e coloquei na mesa. Ele veio, lentamente, com sua cadeira de rodas. Posicionou-se na mesa. Observou o prato com a comida e, como de costume, cheirou.

- Que carne é esta?

- Não sei. Você é quem deveria saber. Foi você quem comprou. Eu apenas tirei da geladeira e preparei.

Ele pegou o garfo e a faca. Cortou, cuidadosamente, a carne em pedaços miúdos. Misturou bem o feijão ao arroz e a farinha... Encheu a colher, levou a boca e começou a mastigar... Comia como um porco. Seus dentes rangiam e faziam um barulho inquietante ao triturar a comida... Um fio de baba, vez ou outra, ligava seus lábios. Aquela cena era nojenta. Mas eu me deliciava com ela... Um riso vitorioso brincava em meus lábios.

- Gostou? Fiz, especialmente, para você.

- Muito bom. Deliciosa. Carne macia.

O barulho da sua boca estrondava em meus ouvidos. Seus dentes despedaçando a carne, o arroz e o feijão era a visão do inferno. Mas Ele não me incomodava mais... Sua boca cheia e aquele alimento preenchendo seu bucho eram meu maior trunfo... Afastei-me... Da janela, acompanhei ele comendo toda a comida... Ele lambia os lábios... Quem diria! Justamente ele que se divertiu tanto ao saber que eu havia comido uma cadela, agora, se deliciava comendo da mesma carne que comi. De forma, diferente... Literalmente... Vingança é um prato que se come frio.

- Bom apetite, velho imundo!

chg