sexta-feira, 29 de março de 2013


UM PONTO DE CHUVA NA LINHA DA VIDA


Em tênue linha...

no meu relicário
guardo tuas pegadas
impressas na areia da alma
pela chuva, apagadas

ficou o gosto do beijo que não fôra
do toque que não acontecera
foi quando anoiteceu...

O que fomos
[ou não fomos]
está grafado nas artérias
são sonetos que dizem algo...

Algo sobre 
: o que somos
[o que nos tornamos pelas mãos do tempo]
: o que haveremos de ser

ou...
simplesmente

algo que se perdeu
mas que não arrefeceu
[que tremula pela ação do vento]
e, então,  anoiteceu...

Ainda chove em minha face
e traz algo só meu
[...e só teu]
algo bom, que alimenta
[... e é sonho]

Na minha linha
há algo que não foi, que, ainda, é
há uma dolorida saudade do que não vivemos...

Algo que mexe
remexe, e me amolece

... e por se tanto, e forte

talvez seja melhor deixar quieto
deixar que seja apenas algo, eterno...

... como a chuva que banha a noite
como os beijos inocentes que se perdem ao entardecer...

anoiteceu.

(chg)

quarta-feira, 27 de março de 2013


A TUA ESPERA

Quando o vazio me ocupa,
seres do passado
[pessoas amadas]
me povoam...

cantam cantigas de ninar
declamam poemas de amor
acariciam meu coração...
[filosofam, profetizam, fazem oração]

despertam o bom, o belo 
que se escondem em mim
empurram-me para frente
apontam a direção 
e, em seguida, vão...

não sei bem para onde
fica o perfume, somente 
a suave essência das rosas
[das rubras, ... nobre semente]

nos lábios, resta o néctar de tanto beijos
nos olhos, cintilam liquefeitos diamantes
presentes de meus ilustres visitantes

Chegando à tona do real, pergunto-me:

- onde terei esquecido meu Maiakovisck?

(chg)

AOS PEDAÇOS

por vezes,
o ódio me alimenta
e da rosa, sou espinho.

(chg)

quinta-feira, 21 de março de 2013


ACASALAMENTO AO VENTO

abro
a boca
e chupo
a chuva da cidade...

eu e a tarde 

copulando, febris
cobertos por lençol cinzento...

a pele beija o vento

e meu tempo respinga desejos...
: solfejo dos poros abertos
... a alma troveja.

(chg)

domingo, 10 de março de 2013


ENQUANTO CHOVE, SOU TEMPESTADE

: falo dessas curvas
expressas em luz e sombra
... dessa pele quente
... dessa carne vulva

: falo desse corpo
que deixa a vista turva
dessa tara que me possui
nas tardes de chuva ...

... falo do meu embrutecido falo que não se curva.

(chg)