sexta-feira, 4 de abril de 2014

... úmida manhã ...

meu corpo tomado de manha
- sofregamente -
espreguiça-se

as horas traçam seu caminhar cíclico
- pausado, sem pressa -
e as gotas do tempo pintam vitrais na janela

... lá fora, a vida é gris ...

meço cada movimento
o sentimento: saudade
o pensamento: a última tarde

ardíamos
a língua se contorcia em cólera
à flor da pele, o desejo
a língua da lua nos lambia ... um beijo

É meio dia.

(chove, fora e dentro de mim. . .)

chg
esse vazio
a desenhar faces

trôpego, vago, 

cacos, fragmento

rio por rir
a boca feito cálice sem vinho

sigo envolto em fingimento

chg
"... deixe-me ir ..."

monotonia do vinil

a girar, a girar

preenchido de ti
vazio de mim
contemplo o nada

a última lágrima secara
no rosto, seu rastro
na alma, teu nome

tua imagem que vem e some

pêndula: para lá, para cá

(embriago-me na companhia de cartola)

"... rir pra não chorar ..."

chg
saudade de amor...

a boca disfarça
o olho denuncia

(disfarce em vão) 

nesse momento
o corpo fica translúcido

na paixão
- despido sentimento -
a alma larga o chão.

chg
corro .    .     .

(existe um tempo que teima em envelhecer-me...)

chg
escrever...

patologicamente
sofro, deliro...
em crise de abstinência de versos.

chg
paradoxo dos imbecis...

na faixa da marcha
os dizeres

: QUERO MEU PAÍS LIVRE. DITADURA JÁ!

chg
Quando um homem diz para uma mulher:
- Sonhei contigo!,
podemos chegar, estatisticamente, a duas conclusões:
1- há 99% de probabilidade de ter sido um sonho erótico;
2- há 100% de probabilidade de ele ter dito a ela por acreditar que o sonho poderá virar realidade.

chg
no corpo 
onde habita minha alma ...

- parte mais etérea de mim, quiçá imortal - 

... há um relicário de gestos, palavras, frases, pessoas, lugares ....

e um manancial de sentimentos e imagens
- matéria bruta da minha existência -

que se dissolvem ao toque da mão enrugada do tempo

sou sentidos e significados
sou um espírito errante
sou pele, carne e osso

... sou vida incompreendida, eternamente...

um perene lugar de pouso.

chg
...

queria desacreditar na tua existência... 

- em vão -

não sou capaz.

... não consigo afugentar os fantasmas das minhas dúvidas...

e assim

faço, de cada dia, um calvário de sorrisos e lágrimas

um sinuoso caminho,
onde cato sonhos
e expurgo desilusões

um fio de navalha, onde me equilibro, exausto, frágil, apaixonado.

chg
palavras
(fêmeas nuas)

... deliro de desejo de possuí-las

(intermitentemente)

chg
ele conta o tempo...

fálico, músculo ferro
passado presente 
ponteiro erétil 

: estéril momento

em cinzas tardes
ao som do vento
ele, amante das horas

Sr. Tempo.

(exuberante carrasco de toda existência)

chg
não me ato
ao que me fere

reajo, mato.

chg
tempo 
senhor da vida

vida
cafetina de nós

gozamos
ou somos fudidos

chg
estou cansado . . .

dê-me leito

um ombro, uma língua ou um peito.

chg
um dia...

... as marcas do tempo
rasgam a carne
e tocam a alma

e dá vida a uma dor insuportável, incessante...

dor que não dói na pele
dor que rasga o peito
dor que faz gemer sem ruído, sem valsa, sem gemido

ah, inevitável dor...

dor que ninguém vê, ninguém houve...
dor que não tem forma, não tem som, não tem cor

não há analgésico
tampouco cura
só a assintomática febre terminal

então, resta compreender, afinal:

seguir significa aceitar
que somos matéria frágil moldada pelo tempo
que somos prenúncio do pó de um caminhar chamado vida
... somos partículas que se espalham no bailar do vento, velho da lida

assim, cansado e lento, haveremos de ir em frente
... de seguir até o alívio final
... de ir, embalado pela melodia do derradeiro suspiro.

chg