domingo, 17 de fevereiro de 2013


A PONTA DA LINHA DO TEMPO

... será quando:..

..: os cabelos cintilarem o mais robusto novelo de algodão branco...

..: a face contar histórias nas cavidades da carne flácida e grossa...

..: as mãos inquietas tremularem desritmadas em sinfonia de todo cansaço...

..: o músculo ex-viril acusar derrota, expor o frágil tempo macho...

..: o ar vagaroroso e pesado sufocar brônquios e calar o grito... o ar raro...

..: a flor do peito, em descompasso, bater sutil até acomodar-se, findar


... então saberei
num calar perpétuo,
que não mais serei.

(chg)

EU, AOS POUCOS I

quero poesia
que não traga ânsia 
nem me cause azia...

(chg)

EU, AOS POUCOS II

hei de sugar
toda água
desse sentimento
deixar vazar toda mágoa
(sem res-sentimento)

creio, sou oceano...

... e peixes coloridos ainda bailam em meu peito.

(chg)

EU, AOS POUCOS XI

carregado de interrogações
procuro...
(em vão)
             ... respostas que não existem em mim

[mundo vil
vida vilã]

... embrulho-me com a noite anil
e afugento o inferno frio.

(chg)


EU, AOS POUCOS X

desejo ausentar-me...
olhar-me por dentro...

... cada compartimento de mim
... cada centímetro de sentimento

(de trevas que me consomem)

- Abra, sou eu, preciso falar comigo!

(chg)

EU, AOS POUCO IX

STATUS
: ausente... foi se encontrar consigo.

NA PORTA DO PEITO, UM BILHETE
: "não deixe recado, pois não sei se retorno para mim".

(chg)

EU, AOS POUCOS VIII

.... no beco

IMUNDO

os Ratos 
de sangue, sedentos
brincam de Deus

a rainha 
de sangue, nobre 
lambe os súditos

MEU MUNDO
é lama e delitos

é nu, seco...

(chg)

EU, AOS POUCOS

quando escrevo, faço 
do coração, mão
            do sangue, tinta
                          do poema, pão.

(chg)

EU, AOS POUCOS III 

Poeta
: corpo farto
de porta aberta...

- Entre!

(chg)

EU, AOS POUCOS IV

... madrugada 

:

lá fora,
felinos gemem
dentro,
minha inquilina
               ... uiva

no muro: um gato, um urro 
no peito: (no meu) um murro.

(chg)

EU, AOS POUCOS V

sou buraco
          . . . cheio de lágrimas
[vazio, cheio de mim]

eu, leito do que fora rio
, lápide do que fora cio.

(chg)

EU, AOS POUCOS VI

exausto...
       . . .dessas superfícies
em que me afogo
d'onde rogo
por fogo.

(chg)

EU, AOS POUCOS VII

no relicário da memória,
contemplo a rubra cicatriz
: desenho talhado no peito pelas presas famintas da última meretriz.

(chg)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


TORÓ

/// chuva, chuva... : chove
=== lave, lave... : leva
as ruas: ... nuas
as almas: ... salvas.

(chg)

reVERBOraSONS

...

há beleza
na insalubre realidade
na insensível dureza
[na brutalidade]

há sons
ressonâncias reinserções
no poluído ar
[ainda cabe amar]

- ah, os sons!
[os que em embalam sonhos]

.

CHGonçalVES

27.01.2013*

eram nuvens
... negras
eram faces
... vermelhas
eram almas
... brancas

eram todos meninos
não amanheceram 
e a chuva foi sal
e o sonho foi sol

quente, quente... dissolvendo futuro, gente

na penumbra, ela ria vestida de ganância, algoz da semente...

The Brack Lady: Kiss me, Kiss me, baby...

- Santa Maria, rogai por eles! 

(chg) +

POESIA

linha 
que me conduz

... luz

tinta
que me traduz

... seduz.

(chg)

O VÁCUO DO CANTO

era verbo na boca, na beira
[gemido por um fio]
era fala na língua, prisioneira
[grito n'água, sutil]

:e: no silênCIO
habita-me o óCIO
prenhe de CIO

...e...

no peito
: o leito 
do que fora rio

eu?
: prostíbulo vazio.

(chg)

não há nada
mais forte

(... na terra, no mar ...)

que o cheiro
da morte

(chg)

LINHA FARPADA DO TEMPO

::: o gosto
da fuligem 
[do ontem]

... ainda
[hoje]
na garganta, presente...

... matar
[para um amanhã]
a acidez dos versos
, cuspir o resto doente ...

... nas sombras: mais mel, menos fel:

... uma lua poente.

(chg)

CORPO VAZIO

- não..,
.., nenhuma ode de mim partiu
a nenhum verso me permiti
em nenhuma linha me traduzi

: posto que não estive em mim...

saiba: há temos habito em ti,,, .

(chg)

ORAÇAO DE TODO QUERER

Deus:

quero algo novo
que seja meu terço
inverso do que fui
reverso do que sou
: quero que seja eu o laço em que me contorço...

quero a linha tênue
para um verbo tosco
degustador do universo
dissipador do consenso
: quero que seja eu ser singular e diverso...

quero assim, simples
vida livre a unir versos
redesenho do meu avesso
víscera do meu reverso
: quero que seja eu todo prosa & verso...

... assim me quero, meu Deus, em mim imerso.

(chg)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

VELUDO PÚBIS ANIL

.... no pós-chuva,
suplico pelo calor da carne.

mas temo...

pois:

o felino
não gemeu
[ainda que quisesse a fiel cortesã)

a puta
não se vendeu
[ainda que ouvisse a prece pagã)

a virgem
não se benzeu
[ainda que fosse toda afã)

e eu:

singro, sempre, só
no silêncio seda anil
[o frio é meu açoite]

afugento toda tara
e me embriago do cheiro
dos pêlos pubianos da noite.

(chg)