Ver-te sujo, [imundo]
Deitado na cama da miséria
... Sentir o odor de tuas vísceras expostas;
teus excrementos exalando podridão.
Secreção vazante, vida insuficiente...
Descontrolada, [compulsiva]
tua respiração acusa tua derrota
... na escuridão,
o caminho que escolhestes,
teu sangue marca.
- O que fizeste de ti?
O álcool trouxe sua conta
Essa dor, que te persegue
e arremessa-te ao chão,
um dia, há de cobrir teu corpo. [seco]
Tudo agora se resume a um buraco raso e nojento...
A cachaça gloriosa ri,
ao ver teu corpo esquálido imerso em fezes.
... buscas ar,
dádiva, antes, abundante,
falta-te.
Teu coração forte resisti...
Nada mais resta
Ninguém ao lado
Nenhuma dignidade
O tempo, [e só ele]
cúmplice da morte,
de teu calvário, é companheiro.
- O que fizeste de ti?
Ainda, amo-te!
- Agüente, tens uma chance!
- Viva! [não mais só, mas sóbrio]
Com minha mão na tua,
vou contigo...
Não estais só,
estais sóbrio...
- abra os olhos!
Acorde, quero tua benção.
Pai!
C.H.Gonçalves
PS: Há um ano faleceu meu pai... Há um nasceu meus versos... Há um ano me derramei em prantos... Há um ano me encharquei de poemas... Há um ano, há um ano.