sexta-feira, 3 de novembro de 2017

estou seco.

por mais que eu me esprema
a barbárie do dia
me expropria de qualquer poesia

sou uma carcaça sob o sol n'um chão árido de hipocrisia.

(chg)

domingo, 17 de setembro de 2017

rente ao chão tingido pela saliva da libido
em meio aos passos apressados da humana dimensão
urram, berram, rugem, marcam território

são muitos.

ela, acuada, aguarda, paciente, em seu cínico suspense, o cão do coito

| sua flor exala o perfume canto da sereia |

da matilha ensandecida, apenas um comporá o Deus mitológico urbano pós-moderno de duas cabeças

: quimera inspirada nos delírios do Dr. Moreau,

um cão siamês - macho-fêmea - unido pela vulva e pelo falo latejantes

cai da pétala rósea inchada - e lambe o chão - um translúcido elástico fio...

: cio.

| chg |

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

quando partiste, sequei.

hoje, as carcaças de meus versos ornam o solo árido e estéril do que um dia foi jardim...
                                                                                            fim. (chg

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

tenho a nítida impressão de que sou parte pútrida de um parto ...

um feto, inquieto nascituro, gestado no ventre de toda ignorância ...

por entre lábios-vulva-mundo,
                                                    tenho contemplado a vida em toda sua extensão cruel
...
tento interpretar todo esse desencantamento mórbido para além das teorias físicas, matemáticas, filosóficas, sociológicas, metafísicas...

...
interpretar não com os olhos de doutores e seus rechonchudos vãos currículos, mas com o olhar de um menino mal educado...

sei, serei parido e abandonado neste chão e-mundo, maternidade caótica de uma surreal dimensão...

colho os dessabores dessas incertezas várias que me atraem para o inevitável  desconhecido...

imerso em uma mar de imbecilidade, tomo consciência de mim, das finitudes do existir, e me arrebento na atmosfera carregada de insensibilidades ...

e assim...

morrendo, vou nascendo.

chg



não posso ficar a vida inteira pendurado em teu seio...

tenho pressa.

não mamo... e teu músculo rubro pulsante do peito está cheio de amores outros

um dia, meus dedos exaustos - por não mais suportarem a dor da desilusão - hão de ceder

... então, tombarei no solo do deserto que acreditei sonho...

| morro atropelado por essa idiota paixão |

chg

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

...
com um dedo de vinho - alimento de formigas ébrias -,
o cálice esquecido na mesa é testemunha de um equívoco, de um desencontro...

aquele cálice tem o que sonhei em meu lábios: as digitais do teu batom carmim.

(formigas se embriagam do vinho, do meu corpo inerte)

- um brinde.

chg

domingo, 15 de janeiro de 2017

deixou-me
repentinamente, partiu

e o chão se abriu
e despenquei no vazio infinito

agora, em queda livre, teço asas com os cacos do que fora sonho

incessantemente    .

chg