quinta-feira, 29 de setembro de 2011

LUA

nua
ah, lua
nua...


emprenha-me de noite
minha carne
dou-te
[é tua!]
crua
ao teu açoite...


ah, nua, me possua, lua.


CHGonçalves

INFIEL

Passarinho,
erraste meu amor...


[- Traiu-me!]


... magoou sua amada, sua flor
... que esperava seu carinho ...


Infiel colibri,
foi sua escolha 
não és mais um beija-eu; 
és um beija-folha.


CHGonçalves

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

VAIDADE: não posso querer-te - exclusivamente - minha (mesmo que fosse minha sina) se egoísmo me falta, se orgulho já não me mata e tua beleza é farta. CHGonçalVES

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PENSAMENTOS


Reserve seu desfile de arrogância e vaidades aos fracos e submissos. CHG


Mesmo quando há uma vontade insuportável de gritar, é sábio calar e ouvir. CHG


Ninguém é forte e honesto o suficiente para dizer tudo o que pensa, sabe e sente. CHG


Dinheiro nenhum compra a liberdade de dizer na tua cara o que sinto. CHG


Entre o doce e o salgado, prefiro o beijo. CHG


A beleza da vida está nas diferentes tonalidades, por que então insistimos em fazê-la monocromática? CHG


Todos somos infiéis. O somos com o nosso sentimento ou com o dos outros. CHG


Temo que na hora de minha partida, nem um aplauso se ouça... Se ficares, apague a luz, deixe-me descansar. CHG


Se víssemos por raio x constataríamos que somos todos iguais. CHG


Morrer é o nascer das pedras. CHG


Se não te critico, não posso te amar. CHG


Não existe ferida que o tempo não cure... Ainda que a dor insista em voltar, não mais fere, arde. CHG


O capitalismo transforma todas as profissões da humanidade em apenas três: funcionários públicos, construtores e vendedores. CHG


Minhas escrevinhações estendem minha parca existência, na minha ausência de constelações. CHG

ALGO MAIS

(ao Ícaro, Gabriel e Pedro)

... ainda que nada

eu seja
e seja

im-po-sí-vel seres
tudo

tudo
farei para seres
algo

algo
além do qu'eu ousara
ser

ser
de mim
do início
ao fim...

filho.

CHGonçalves

LUZ NA JANELA

ao passar pela casa onde vivia
o senti na janela
a minha espera


... um encontro que não viria...


por sua alma, que ora quis, orei
pela visita que não lhe fiz, chorei


CHGonçalVES

FIGURINHAS DE LINGUAGEM 3 - EUFEMISMO

Perguntou pelo avô:


- Por que não vem?


(... era seu aniversário,
naquele lindo dia
não estava entre eles
e não entedia...)


- Partiu para uma melhor!
Disse-lhe a tia.


Continuava a dúvida
menino, não compreendia
os eufemismos da vida.


CHGonçalVES

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CARNIFICINA

segura (me)
prenda (me)
sufoca-me...


com teus olhos
penetre os meus
faça-os sofrer
[dome-os] 
impeça-os de correr...


eles 
e as entranhas escassas
eles
e o corpo e a alma devassa


- Ampute-me as asas!


[louca]
cala meu silêncio 
com tua boca


colide teus lábios 
[aos meus]
assassina de Zeus


sendo tua presa, acalmar-me-ei...


e na presença da morte
feliz ainda serei
furtando-me a sorte...


... tu, felina, há devorar-me as carnes,                menina.


CHGonçalVES

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SEIOS

Quando percebo seus olhares
bebendo meus poemas
sinto-me um ser gigante
com dezenas de seios...

seios cheios,
seios carregados,
seios mãe, amados

derramando leite, amamentando...

minhas tetas não chegam em minha boca
alimento-me do brilho
da luz de seus olhares
da carícia dos que me sorvem.

... deles me sirvo.

CHGonçalVES

ECLIPSE DE MIM

...

há uma p|o|n|t|e
que vai da minha boca A tua...
há uma alma - louca -
que se enamorou da LuA...

há uma ponte

há uma boca

há uma louca

uma lua

que é minha puta

nua    ...

CHGonçalVES

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

REVELAÇÃO

... e ela, ao poeta, perguntou:

- Como você faz?

- eu sinto
... vejo . formo . canto . pinto e assino.

e, de novo, perguntou:

- No que se inspira?

- no que vejo (fora e dentro)
no que vivo
nos que vivem
no que dói
no que voa..

e ela calou...
e ele perguntou:

- Mais alguma pergunta?

calada, ela chorava, era poeta, descobrira.

CHGonçalVES

JÁ NÃO ME CABE

... já não era possível segurar a água represada nos olhos


~~~ desaguou.


... antes que virasse as costas e partisse, sua língua teimou e


pronunciou:::


(bem baixinho) sufocada pelos lábios molhados de desejo de beijo


- - - Ainda te amo!


CHGonçalVES

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Vou confessar (ai, que vergonha!)... Eu morria de medo do canguru da Radiolux. Era mais tenebroso que o fura-dedos; mais horripilante que os dias de exame médico no grupo escolar... Quando o via, em disparada, fugia para casa, escondia-me e chorava... Pronto. Contei. Ah, hoje eu o vi novamente, estava velho e frágil... Sorri. Já sou rapazinho.

CHGonçalves

PRESA FÁCIL

... naquela tarde,
c
ai em um armadilha
- a que eu desejei ..

.

c
a
i
r
.

.. fiz-me alimento,
mas também comi...

- Se fui devorado? ... fui, e como!

sobrevivi.

CHGonçalVES

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

EM FACE DE TODA TRISTEZA

chora
. .
. .
. .

lava tua face
- agora -
larga o disfarce...

chora
. .
. .
. .

a cada dia,
~~uma aurOra.

CHGonçalVES

terça-feira, 13 de setembro de 2011

JULGAMENTO

juga-me
condena-me
sem defesa,
encarcera-me...

meu crime, nem sei...

poderias, pelo menos,
visitar-me

na cela fria, onde cumpro minha pena

basta-me teu sorriso
e meu nome partido de tua boca

e tornarei a sonhar
com o dia que,
não mais será crime,
amar.

CHGonçalVES

FIGURINHAS DE LINGUAGEM 2- ONOMATOPEIA

Um joguinho:

Seja som bicho ou de queda de entulho
para tudo, o seu barulho

- Faz o gatinho!
- Miau, miau.

- Agora, o cachorrinho!
- Au, au.

... - e a centopeia?

(silêncio)

... vixe, se deu mal

... não faz som a centopeia

fim da brincadeira da onomatopeia.

chg

NOITE

Olhei - desconfiado -
pela janela
[as estrelas caladas]
ela me olhou nos olhos
no fundo dos olhos

eu sei...
preciso dormir
eu sei...
não revelarás teus segredos...

... noite.

- Boa você!

CHGonçalve

FIGURINHAS DE LINGUAGEM 1 -

ANÁFORA

se não gostavam de Ana
se não a suportavam agora
se não queriam que entrasse
por que não puseram Aná Fora?

CHGonçalVES

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CENA DO CRIME

Restara, dele
um contorno
contínuo
brando
branco
no chão ...

As manchas de sangue
ainda exalavam
o que dantes fora uma vida
atolada em podridão

[último odor... Sabe-se: não sentira dor]

restara o desenho
no chão
branco
brando
contínuo
de sua última posição.

CHGonçalVES

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MEUS "EUS"

São tantos "EUs"
inquilinos deste ente
doente
corpo que é mEU


... tocam-se
... chocam-se
agridem-se ...


[tantos
e tão intensos
e já não me caibo]


PersonaGENS ... maquiaGENS ... visaGENS
que vazam:


pelos poros
buracos
orifícios
dolorosos


Eis a questão:
meus SERes e não SERes
onde desaguar?...


... Onde? 
Antes que seja tarde demais,
e meu pranto vire mar
e eu venha a me afogar


... cercado por meu cadáveres,
eu, imerso em mim.


CHGonçalVES

PAISAGEM (h)UrbANA

... lhos digo:
tinha a cor do MURO
e a dor de um MURRO
, o mendigo...


CHGonçalVES

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Havia muita poeira. Não conseguia respirar. O operário, então, resolveu parar o trabalho. Saiu, puxou um cigarro do bolso e fumou.

CHGonçalVES
‎- Quero você!
- Mas eu não te quero.
- Cale-se, no meu querer mando eu.

E nunca mais se falaram.

CHGonçalVES

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

DUETO

Dizes-me:


- devasso... 
... entra-me
... venha pela fenda 
[a rachadura do púbis]
sem pudor,
amor.


Dizimas-me.


[meu corpo se contorcendo
enrugado o suado lençol]


Fica-me:


teu gosto em minha boca
teu cheiro em minha pele
minh’alma grudada a tua


Fita-me...


... nua.


CHGonçalVES

DUELO

insisto, enfio
cravo os olhos
no papel
vertente do cio
exercício cruel

leio [não creio]
sigo - não consigo - e ligo
piloto automático
hermético
pensamento antipático

furtam-me as letras
e segue [persegue]
entre o livro e o livre
a luta árdua, [sofregues]

as idéias triunfam
fecho o livro
tranco os olhos
as idéias - livres - borbulham.

C.H.GonçalVES