quarta-feira, 7 de agosto de 2013

QUANDO CHORAM AS NUVENS

Quando despencou da cama, de branco lençol, não imaginava a exuberante viagem que faria. O que parecia pesadelo fez-se, num instante, um belo sonho.
Viu-se bailando no ar. A brisa inconstante e fria moldando seus cabelos, acariciando seu corpo... Esbarrou, sem perceber - estando encantada pela música do vento tocando as folhagens - em um imenso tapete vermelho. Pediu licença.
Livre, deslizou veloz até se projetar, num salto, e cair, suave, sobre os pés do frio chão, que não reclamou; pelo contrário, sorriu.
Acabara de lavar a alma, antes castigada pelo sol da tarde. Ainda assim, desculpou-se e, logo, precipitou seus pequenos pés no rio que passava ao lado. Foi tragada, conduzida, sem que pedisse, para rios nunca d'antes navegados.
Pensou: “terei morrido, e eis o paraíso?”.
Não. Era real. Era a fantástica aventura cíclica da vida...
Repentinamente, com violência, foi lançada no vazio. Desceu por uma furiosa cachoeira. Cortou o espaço e rasgou a garganta do silêncio. Com um brilho no olhar, misto de medo e deslumbramento, seguiu em direção ao mundo subterrâneo, fascinante e desconhecido. Um mundo formado de túneis, labirintos de águas correntes, escuridão e sons difusos... Só então, percebeu que não estava sozinha. Estava, por todos os lados, cercada de seres iguais. Felizes.
A luz, a desejada em todo fim de túnel, aproximava-se. Explodia multicores em seu minúsculo corpo e a consumia. Sua existência ganhava sentido, também volume. Iria ver o mar... A realização de seu maior sonho não tardaria a chegar.
Cerrou os olhos, abriu os braços e mergulhou - bem fundo - na sua mais intensa experiência. Sentiu o mar lhe acolher, afagar, envolver, amar... E ao abrir os olhos, onde lágrimas desciam e se fundiam a sua essência, entendeu que, também, era mar.
- Existe vida após a tempestade!- pensou.
Feliz, a Gota de Chuva viveu por lá, no mar. E se amaram. Naquele sublime acasalamento, prometeram viver um para o outro até que a evaporação os separasse.

chg

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