QUANDO CHORAM AS NUVENS
Quando despencou da cama, de branco lençol, não imaginava a exuberante
viagem que faria. O que parecia pesadelo fez-se, num instante, um belo
sonho.
Viu-se bailando no ar. A brisa inconstante e fria moldando
seus cabelos, acariciando seu corpo... Esbarrou, sem perceber - estando
encantada pela música do vento tocando as folhagens - em um imenso
tapete vermelho. Pediu licença.
Livre, deslizou veloz até se projetar, num salto, e cair, suave, sobre
os pés do frio chão, que não reclamou; pelo contrário, sorriu.
Acabara de lavar a alma, antes castigada pelo sol da tarde. Ainda assim,
desculpou-se e, logo, precipitou seus pequenos pés no rio que passava
ao lado. Foi tragada, conduzida, sem que pedisse, para rios nunca
d'antes navegados.
Pensou: “terei morrido, e eis o paraíso?”.
Não. Era real. Era a fantástica aventura cíclica da vida...
Repentinamente, com violência, foi lançada no vazio. Desceu por uma
furiosa cachoeira. Cortou o espaço e rasgou a garganta do silêncio. Com
um brilho no olhar, misto de medo e deslumbramento, seguiu em direção ao
mundo subterrâneo, fascinante e desconhecido. Um mundo formado de
túneis, labirintos de águas correntes, escuridão e sons difusos... Só
então, percebeu que não estava sozinha. Estava, por todos os lados,
cercada de seres iguais. Felizes.
A luz, a desejada em todo fim de
túnel, aproximava-se. Explodia multicores em seu minúsculo corpo e a
consumia. Sua existência ganhava sentido, também volume. Iria ver o
mar... A realização de seu maior sonho não tardaria a chegar.
Cerrou os olhos, abriu os braços e mergulhou - bem fundo - na sua mais
intensa experiência. Sentiu o mar lhe acolher, afagar, envolver, amar...
E ao abrir os olhos, onde lágrimas desciam e se fundiam a sua essência,
entendeu que, também, era mar.
- Existe vida após a tempestade!- pensou.
Feliz, a Gota de Chuva viveu por lá, no mar. E se amaram. Naquele
sublime acasalamento, prometeram viver um para o outro até que a
evaporação os separasse.
chg
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