12 MELHORES POEMAS DE 2014 (OS MEUS,
REVISITADOS)
... úmida manhã ...
o corpo, tomado pela manha,
se espreguiça – intermitentemente
as hora traçam um caminha cíclico - pausado,
sem pressa -
gotas de céu pintam vitrais na janela
... fora, a vida é gris ...
(meço cada movimento)
um sentimento: saudade
um pensamento: a última tarde
(ardíamos)
as línguas se contorciam em cólera
à flor da pele, o desejo
a lua nos lambia ...
no silêncio, beijo
é meio dia.
(fora e dentro de mim, chove)
chg
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Assim como surgiu
sutil
sumiu .
chg
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IDOLESCER (para Dona Orcinda)
Quero minha face cortada pelo tempo
Quero minha mãos trêmulas de lida
Quero os cabelos brancos refletindo tardes
Quero errar nomes e balbuciar profundezas do ser
Quero um olhar distante - errante - a contemplar amores idos
Quero meus delírios da idade - sem vaidade - a recitar
lembranças e saudades
Quero-me assim -
velho e enrugado- para contar bafos e causos que jurarei que vi
E, perto do fim,
Quero orgulhar-me do meu viver longevo e dessa minha envelhExcência.
chg
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“... deixe me ir ...
| a monotonia
do black vinil , riscado pela agulha vil , dá voltas e voltas
preenchido de ti
vazio de mim
contemplo o infinito
a última lágrima secara ...
no rosto, teu toque; nos olhos, tua face; na boca, teu nome;
na língua, teu gosto
(embriago-me na companhia de cartola) |
... rir pra não chorar.”
chg
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TESTAMENTO
Se for para fazer a minha vontade, que seja assim a
cerimônia do meu fim:
Minha urna mortuária
No salão do Chalé onde ousei sonhar
Abertas a imensas portas
Para que meu cadáver contemple o mar
Onde o sol se põe em mil cores
sessenta graus, inclinem-me
Ornem-me com todo tipo de flores
Vermelhas, de amor e crime
Palito branco, sapato all star
Celebrem com música a minha partida
Ladainha, rock e todo cantar
Depois da meia noite, uma boa balada
Bebam meu corpo com vinhos, pães e queijos
Meus momentos como num filme de cinema
Risos em todas as faces; na minha, beijos
Lábios quentes em rosto frio: derradeiro tema
Em meio a recitais, cantadores, putas e atores
Meu cortejo pela vias da vila que sempre me fez sorrir
Após, meu corpo alimentará a terra, sem dores
E serei, tão somente, lembrança e saudade nesse partir
Não esqueçam que aos sonhos me dediquei
Que cantei, dancei e sorri
Que em cada um de vocês acreditei
Que há sempre um
chegar e um partir
Aos meus filhos, exemplos e conselhos que deixei
À minha companheira,
a certeza que amei demais
À minha mãe, o agradecimento
pelo que fui e sei
Aos meus irmãos, a certeza de que ficarão em paz
Se for para fazer a minha vontade, nesse tempo que me
resta: quero que o meu embarque para a
eterna cidade, não seja um adeus, mas um convite para minha infinita festa.
... se for párea fazer a minha vontade.
(roubo um fragmento do poeta - adapatado - : “imaginou-se poeta, sonhou e amou na vida”)
chg
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Caminhava para trás...
nas costas, um saco de seda bordado a mão
colhia histórias abandonadas - as suas
enxergava pelo canto dos olhos – só por eles...
... era incapaz de ver o que estava a sua frente
(sons, luzes, odores o perturbavam)
... era carne, ossos e fezes .
Não tinha sombra ...
alimentava-se do que pisava
exalava o perfume do chorume
: o dejeto que era
não temia a morte
sequer ouvira falar de sua existência
a dama de preto o havia esquecido
tinha sono, mas não dormia
deitava no chão
contemplava o voo das formigas
acreditava ser céu
ininterruptamente, sonhava com os olhos arregalados
buscava um mar de intenso azul onde foi batizado
abençoado pelo santo das tempestades, filho do vento
buscava um Eu perdido
buscava o tempo.
(caminhava para trás
... para sempre)
Chg
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... e o que te ata à madrugada, amada?
Por que te seduzem esses sussurros no frio?
O que te satisfaz nessa nuvem gris?
Por que te atraem – e traem – esses corpos nus, mornos?
És feita da relva noturna que arde de tara, eu sei.
Por que te envolves à neblina quando eu - sol - desejo te queimar?
Porque és assim: cama quente e lençóis macios; pele seda e
toques sutis.
Porque, amada, és madrugada.
chg
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não sou poeta, sei
sou
profeta
promessa
que se canta em versos
e se encanta em terços
: palavra fé.
chg
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o mundo
mudo
era osso
fosso
indigente &
indecente
deram-lhe as costas
as bostas
recitava
cantava
palavra
que lavra o mundo
imundo
que lava
que leva
. . .poeta vagamundo.
chg
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na ditadura do
sucesso
proletário de dons pífios
| inanição & imbeleza |
há fracassos que me saciam
e que me enchem a barriga
me alimentam da mais bela pobreza.
chg
proletário de dons pífios
| inanição & imbeleza |
há fracassos que me saciam
e que me enchem a barriga
me alimentam da mais bela pobreza.
chg
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enquanto vasculhas
meus defeitos, cultivo tuas belezas.
chg
chg
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vestes do tempo
tecidos pelas mãos da aranha
| ferrugem, mofo, memória |
história aprisionada na matéria em decomposição
num canto escondido,
o velho relógio revela ao sofá antigo um terrível segredo:
- O coito se deu naquela cama!
... relatos de um impune adultério, de um indigesto incesto.
(são tantas vidas na poeira do antiquário)
chg
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