quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

QUANDO CHORAM AS NUVENS

Quando despencou da cama, de branco lençol, não imaginava a exuberante viagem que faria. O que parecia pesadelo, fez-se, num instante, um belo sonho. Viu-se bailando no ar, a brisa inconstante e fria moldando seus cabelos, acariciando seu corpo... Esbarrou, sem perceber, estando encantada pela música do vento tocando as folhagens, em um imenso tapete vermelho. Pediu licença. Livre, deslizou veloz até se projetar, num salto, e cair, suave, sobre os pés do frio chão, que não reclamou, pelo contrário, sorriu. Ele acabara de lavar a alma, antes castigada pelo sol da tarde. Ainda assim, desculpou-se e, logo, precipitou seus pequenos pés no rio que passava ao lado. Foi tragada, conduzida, sem que pedisse, para rios nunca antes navegados. Pensou “terei morrido, e eis o paraíso?”. Não. Era real. Era a fantástica aventura cíclica da vida... Repentinamente, com violência, foi lançada no vazio. Desceu por uma furiosa cachoeira. Cortou o espaço e rasgou a garganta do silêncio. Com um brilho no olhar, misto de medo e deslumbramento, seguiu em direção ao mundo subterrâneo, fascinante e desconhecido. Um mundo formado de túneis, labirintos de águas correntes, escuridão e sons difusos... Só então, percebeu que não estava sozinha. Estava, por todos os lados, cercada de seres iguais. Felizes. A luz, a desejada em todo fim de túnel, aproximava-se. Explodia multicores em seu minúsculo corpo e a consumia.   Sua existência ganhava sentido, também volume. Iria ver o mar... A realização de seu maior sonho não tardaria a chegar. Cerrou os olhos, abriu os braços e mergulhou, bem fundo, na sua mais intensa experiência. Sentiu o mar lhe acolher, afagar, envolver, amar... E ao abrir os olhos, onde lágrimas desciam e se fundiam a sua essência, entendeu que, também, era mar. “Existe vida após a tempestade!”, pensou... Feliz, a Gota de Chuva viveu por lá, no mar. E se amaram. Naquele sublime acasalamento, prometeram viver um para o outro até que a evaporação os separasse.

C.H.GONÇALVES


Um comentário:

  1. “Existe vida após a tempestade!”, pensou... Feliz, a Gota de Chuva viveu por lá, no mar. E se amaram. "


    É doce morrer à beira do a mar!

    Há tempos eu náo lia algo táo terno, táo lindo, táo real. Táo poesia. Táo vida.

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