Carrego nas costas um velho sábio,
que cochicha poemas e
vidas vividas em meu ouvido;
quanto mais ando,
mais fala,
mais aprendo lições...
Carrego nos ombros um homem gordo
que consome minha energia,
quanto mais ando,
mais ele engorda,
minhas pernas cansam,
o corpo endurece,
o chão amolece até me engolir,
alimentar-se de mim...
Carrego no peito uma mulher nua
que me encanta com o perfume do seu sexo,
quanto mais ando,
mais impregna-me o cheiro das vaginas que cruzam meu percurso,
traz-me o insuportável desejo de gozar e reproduzir...
Carrego em meu ventre um menino
que brinca sozinho,
que espera um descuido do adulto chato
que sou
para fugir pela brecha de um sorriso sincero
a procura de outras crianças;
revivo a infância passada,
agora e
sempre presente...
Carrego na vida um velho,
um homem,
uma mulher,
uma criança,
carga de múltiplas vidas,
que nascem,
vivem,
amam,
morrem,
voam...
Carrego em mim, sonhos;
trago nas costas, asas.
C.H.Gonçalves
belíssima construção poética..
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