sexta-feira, 14 de março de 2014

MADRUGADA

é certo: ninguém é perfeito, muito menos completo
somos pedaços, num tempo único: vida
(opto por ser assim, repleto... provo tudo... tudo que me faz amar, sonhar, delirar, gozar ...)
nesta noite que me fecunda, sou o outro lado da lua
lá onde criaturas uivam, poetas labutam e a virgem é nua
é certo: em breve iniciarei minha descida
(não sei o exato momento... mas já é tempo)
é tempo ...
de banhar-me com a melodia
de sentir o beijo do vinho, o carinho de um livro esquecido, de enamorar-se da euforia
é tempo de contemplar o olhar da puta
o vagar do ébrio, a lágrima da mãe que vela o menino

(hora de ser cúmplice do silêncio, amante do grito)
é tempo de não ter pressa
de estar só em meio a multidão, de saborear-se... mútua, intensamente
é certo: somos assim...
sóis que se põem, rosas que desabrocham
e poemas são assim: um nascer, um morrer, contínuos
assim, inesperados
- Silêncio! Veja a valsa das almas... Vês? Bolinam-se numa sinfonia de gemidos, de palavras desconexas, arranhões, lambidas, mordidas.
- Escute! São passarinhos festejando a manha...
É certo: há riso na gota de orvalho que despenca de ti
(líquido que lava meu solo enrugado)
É certo: poetas são assim, sem motivo... Sem explicação, apenas são...
(operários da palavra, parteiras de verso ...)
Digo-te inspiração, o dom sagrado de fazer do verbo – e no início era o verbo – a exuberante flor de jade.

Maria das Dores

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