CARTA INACABADA
sobra-me um resto de força
energia represada em meu ser
guardei-a para te perguntar
para ti, que temeste falar
que teimaste silenciar
pergunto-te, enquanto o tempo esgota-se ...
não repares: as letra trêmulas
são das mãos cansadas
da vista gasta
da respiração que pede: basta!
pergunto-te, enquanto a morte me rasga o peito
e a vida é um frio leito
o sonho, o último calvário
e a febre arde
e a vida parte
pergunto-te, quando já não há ar
tampouco gosto
nem sede
muito menos fome
há sim, das gardênias, o suave perfume
pergunto-te, amor...
- tens algo a me dizer? Se tens, dize-me agora!
posto que a boca é seca
que o corpo é fardo pesado
que a carne é morna
que é chegada a derradeira hora
e a mão, incapaz de escrever outra aurora
- dize-me, agora!
enquanto ouço o harpejo dos anjos
enquanto o mundo gris é tomado pelo branco
enquanto cego: calo, paro, estanco
- dize-me, agora!
já não há mais força
já não há mais tempo
já não há mais vida
(sinto a alma despregar da carne. Eis que não mais me sou)
é tarde...
reservo minha última gota de existência -face ao teu silêncio - para te dizer:
- amo-te! ...e se tens algo a d
(chg)
* 23.05.1971
+ 23.05.2071
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