segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

LIÇÕES AO ENTARDECER

Um dia.

... Um dia, o peso do tempo desabará em tuas costas
... Um dia, o calor dos corpos abrirá  caminhos em tua face
... Um dia, o fio afiado das noites em claro fará fissuras em tua carne
... Um dia, a poeira dos teus desertos será névoa em teus olhos
... Um dia, teu nervo exposto será a trepidação de tua mão
... Um dia, teu eco - vago, velho, vão - sufocará tua voz

... Um dia .

E nesse dia, ...

... quando a tempestade for calmaria
... quando os sonhos forem promessas vãs
... quando a tua imagem no espelho for Medusa
... quando a boca for resquício da saliva do último beijo
... quando a vida for um fio tênue; um elo entre a certeza e a dúvida,

saberás que só te restou um relicário de palavras  - dispersas e empoeiradas -

saberás que só te restou uma fagulha de presente - instante agonizante -

saberás que só te sobrou uma meretriz: a dor... que, ao enternecer, ao teu lado,
contempla a lua de sangue que se ergue no firmamento...

Então, tua lágrima beijará o mar..:

exausto, em teu derradeiro cais, acenarás  para o timoneiro da lúgubre nau

E partirás.

E, se ainda tens um riso a brincar - tímido - em tua tez longeva é porque amaste ...

... É porque - ainda que nada mais tenhas a oferecer -, reciprocamente, te amaram...

Amaram-te pelo que fora dado; pelo tanto que te doaste...

Amaram-te assim: intenso, simples,  imenso...
Amaram-te sem nada pedir em troca.

(peixes coloridos brincam em tua alma límpida... )

Um dia.

chg
na penumbra do movimento, neblino...
sublimo o inexorável pensamento do beijo

é o meu tempo - passado - em contraste com tua imagem presente

o brilho do riso - registro da ínfima luz - é ente, agora, distante...

versos em contralto, singra - nas ondas do rádio - todo querer

vê-las, velas ao vento rumo à utopia...

fim do dia

os olhos orvalham.

(anjos existem...)

chg
Não será o barulho do grito da dor, mas o silêncio do meu coração que afugentará minha alma para o desconhecido.

chg
:::

... agora, gotas de cristais deslizam na tez transparente ...
... melodia de chuva fina embala um sonho ébrio...

... do que restara do movimento etílico, a silhueta sublime - bruta poesia - é magia do único riso no baile de máscaras onde estivera...

| no mais, tudo espelhos |

... segue, singra o asfalto noir - pele úmida - ... e desafia o espaço e o tempo...

... na face, um sorriso desenhado, luz nesse fim de tarde gris...
... anoitece, enquanto sua alma amanhece...

... ser orvalho daquela rosa, foi o que mais quis.

(longe, a imagem do anjo pintado no alto concreto, líquido da carne-giz)

chg