sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

É CHEGADA A HORA

... ah, essa mania que se abriga em mim...


esse vício 
de me apaixonar
de amar quem co-habita
minha vida 


esse apego
que aperta o peito
sufoca o rubro inquilino 
exausto da lida 


esse querer
sem sossego 
que inunda os olhos
na eminente partida 


... ah, essa agonia que se traduz em fim.


CHGonçalVES

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

NASCENTE

inunda os olhos
e lava teu rosto
a carícia da lágrima te fará sorrir...

agora
: tua alma sonha
: tua face chove...
- chora!

CHGonçalVES

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SENTIDOS

com as narinas
: sugo-te os odores...

com os olhos
: tiro-te as roupas...

com a língua
: provo-te os sabores...

com o pensamento
: devoro-te as carnes...

com os dedos
: sacio-me.

CHGonçalVES

CONFIDENTE

guardarei 
meu segredos
meus pecado capitais
para confessá-los
aos vermes
aos micro-organismos
que habitam a terra fria
que se alimentará de meu cadáver.

CHGonçalVES

ÁGUA CORRENTE

desprovido de mágoa.


em meu peito 
não há represa


o que me inunda
o que machuca


de mim
constantemente
deságua....


CHGonçalVES

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

JOÃO INVISÍVEL

no asfalto
miolos fritam
sOl
calor caos
um jornal feito
lençOl

nenhuma vela
nenhuma lágrima
nenhuma vida

(curiosos curiosos curiosos curiosos
curiosos curiosos curiosos curiosos
curiosos curiosos curiosos curiosos
curiosos curiosos curiosos curiosos)

in - sen - si - bi - li - da - de

vos digo:
- ninguém chora a morte de jOÃO
- o mendigo –
(que ri grudado ao chão)

Na pressa cotidiano-pósmoderna da cidade
Ele ri
em seu último
em seu único
Dia de Visibilidade.

CHGonçalVES

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SUBHUMANO

d e s tro ça d o

e humilhado
sua sombra o deixara 
sem dizer adeus...

... nada mais lhe resta
a não ser esperar... 

esperar que os vermes devorem seus restos.

CHGonçalVES

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PENSAMENTO

Não pareça ser, seja... ainda que desagrade.


Doar, um verbo a conjugar...


CHG

ROTEIRO

a vida é filamento
sinuosa linha
entre dois pontos


: nascimento
: falecimento


fio invisível
de tempo finito
[... i m p r e v i s í v e l ...]


sem edição
ainda que acerte
ainda que erre
um filme inédito


... a espera de sua avant-premiére.


CHGoçalVES

LÍQUIDO

a alma reside na iris...


; o amor no peito
; o desejo na pélvis
e a dor na carne


... se não me sentes ...

: vaza-me os olhos
: cala-me o peito
: enflacidece-me a pélvis
e corta-me a carne


- E a iris? 


: liquefaz a alma
... que despenca 
... que cai em gotas 
[salobras]
da face amarga
[celeuma]


borra a palavra
tinge a página


e salga o derradeiro poema.


CHGonçalVES

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MANHÃS ESCURAS, NOITES EM CLARO, SE NÃO ME PROCURAS

estranhas
o odor fétido que exala
do interior da artéria
e que dilacera minhas
entranhas


(... estranhas entranhas ...)


calas
frente ao buraco
da fossa da iris vazia
e só quando a noite faz-se dia
falas


(... falas quando calas ...)


atormentas
o coração que lamenta
e sangra o prata da lua
a cama reclama tua pele nua
ah, tormentas


(... noites em claro, manhãs escuras ...)


não há luz no fim do túnel
não há sequer túnel
nem respostas
nem curas...


... se não me procuras.


CHGonçalVES

ARQUITETO

.
.
.


ar
ki
te
to


meu poema
: CONCRETO


embriaga | excita
e sempre  d e i x a


E
R
E
T
O
.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

VELAS NA CHUVA

enquanto ele subia
ela, a chuva, descia
(violentamente...)

: lágima que cai
em nome do pai:

é a alma que lava
impurezas na vala
(sordidamente...)

: dia sem brilho
em nome do filho :

cor que seduz
a vida sem luz
(geneticamente...)

: pai no céu; filho no canto
em nome do espírito santo

... enquanto o pai subia
a chuva, e só ela, sorria.

CHGonçalVES

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

NEM À BALA, ME ABALAS

é o que 
me abala
... e me entala
... e me mata


é o que 
... me joga na vala
... me tranca na jaula


(e me cospe na cara)


- mas não me cala!


quando passa: somente, resvala
quando fura: sutilmente, me vasa


... : e a alma extravasa, virá bala, e te cala.


CHGonçalVES

????????????

- o que dizer
se já disse tudo?
... 
- por que esperar 
se, sei, não chegarás?  


fico com o sonho vão
fico, até que se apaguem as luzes
e eu me vista de escuridão


(... fico, até toda lágrima desaguar da face opaca...(


CHGonçalVES

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

MADRUGADA

... na calada da noite
pichadores dão luz a cor 
retocam a maquiagem da velha cidade 


... d'onde
dos telhados
gatas sussurram poemas de amor
gemidos de prazer e dor...


... nos caminhos: pedras
e um bêbado, solitário, que sonha
e desalinha vielas, compõe melodias...
a espera d'um novo dia...


... na noite calada, há vida...
... eu, ávido, a habito.


CHGonçalVES

MEL

Entre...
: o céu e o fel
há de restar
uma gota de mel
que mate:
... a fome
... a sede
que fez morada
nessa boca infiel.


CHGonçalVES

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SOMBRA SUSPEITA (in cítrico)

coberto em seu manto
usual disfarce
de seu sedutor canto


anda, sorri, acena...


sempre 
a espera do bote
da vítima encantada
da carne, do corte
fim da garra afiada


personagem insuspeito
generoso, educado...


- Perfeito?


seria...
... se não fosse por um detalhe


: sua sombra exala sua verdade
; exala o odor pútrido de sua alma


... das fezes que ele vale.


CHGonçalVES

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O HOMEM NO LIXO

Ele mexia no lixo, buscava "alimento"... Levantou a cabeça, olhou-me firme. Seus olhos não tinham brilho, estavam vermelhos... Vestia uma camisa preta, surrada e encardida. Não me disse nada, não com palavras... No peito, os dizeres: "SE NÃO HÁ JUSTIÇA PARA OS POBRES, QUE NÃO HAJA PAZ PARA OS RICOS"... Há verdade nisso. Não haverá paz sem justiça social.


CHG

(in)DOMÁVEL

... ela levanta a saia
não impeço que saia
... se não entendes, te falo
: ninguém domina seu falo...

CHGonçalVES