segunda-feira, 30 de maio de 2011

LENÇOL DE FEZES OU O BEIJO DA MORTE NO ÉBRIO

Ver-te sujo, [imundo]
Deitado na cama da miséria
... Sentir o odor de tuas vísceras expostas;
teus excrementos exalando podridão.

Secreção vazante, vida insuficiente...

Descontrolada, [compulsiva]
tua respiração acusa tua derrota
... na escuridão,
o caminho que escolhestes,
teu sangue marca.

- O que fizeste de ti?

O álcool trouxe sua conta
Essa dor, que te persegue
e arremessa-te ao chão,
um dia, há de cobrir teu corpo. [seco]

Tudo agora se resume a um buraco raso e nojento...
A cachaça gloriosa ri,
ao ver teu corpo esquálido imerso em fezes.
... buscas ar,
dádiva, antes, abundante,
falta-te.

Teu coração forte resisti...

Nada mais resta
Ninguém ao lado
Nenhuma dignidade

O tempo, [e só ele]
cúmplice da morte,
de teu calvário, é companheiro.

- O que fizeste de ti?

Ainda, amo-te!
- Agüente, tens uma chance!


- Viva! [não mais só, mas sóbrio]

Com minha mão na tua,
vou contigo...

Não estais só,
estais sóbrio...

- abra os olhos!
Acorde, quero tua benção.
Pai!

C.H.Gonçalves

PS: Há um ano faleceu meu pai... Há um nasceu meus versos... Há um ano me derramei em prantos... Há um ano me encharquei de poemas... Há um ano, há um ano.

Um comentário:

  1. Essa já tive oportunidade de ler lá no grupo do facebook.
    Um primor de poema.
    Abraço

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