terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

BAGAGEM

Eu carrego nas costas um velho sábio, um poeta que confidencia versos e exalta suas façanhas em meu ouvido. Quanto mais eu ando, mais ele fala e mais aprendo suas lições...

Eu carrego nos ombros um homem gordo, um imenso homem que consome minha energia. Quanto mais eu ando, mais ele engorda, mais minhas pernas cansam, mais meu corpo enrijece e faz o chão amolecer, amolecer até – um dia - me engolir, alimentar-se de mim...

Eu carrego no peito uma mulher nua, uma deusa que me encanta com o seu perfume fêmea, quanto mais eu ando, mais me embriago com o cheiro da sua flor morna, rosa que desperta o meu desejo de gozar, de me multiplicar...

Eu carrego no ventre um menino, um anjo que brinca sozinho, um moleque desobediente que espera um descuido do meu adulto impaciente e foge pela brecha de um sorriso.... correr - livre – para brincar com outras crianças, para revisitar a infância passada e fazer dela, presente... o meu presente...
                                                                 
Eu carrego na vida um velho, um homem, uma mulher, um menino. Bagagens de múltiplas existências... Partos. Parto do nascimento; parto do desparecimento... Vidas que andam, correm, voam...                                                          

Eu carrego nas mãos poemas; nas costas, asas...

Eu carrego em mim sonhos; sonhos que me carregam.

chg